Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Faixa elevada para pedestre, em frente à Escola Medianeira, na Avenida Medianeira, está esburacada e com a pintura precária
Em um ponto, pedestres e motoristas de Santa Maria se encontram na mesma situação: a falta de sinalização junto aos quebra-molas e faixas elevadas de travessia. Na maior cidade do centro do Estado, com mais de 160 mil veículos em circulação, o que não falta é um cenário típico de grandes centros urbanos: engarrafamentos, buraqueira, obras - para minimizar problemas de trafegabilidade - e imprudência de todos os lados. Para completar, há falta de sinalização em várias vias de bairros e vilas de Santa Maria.
Desde o começo do ano, quando a gestão de Jorge Pozzobom (PSDB) obteve um empréstimo de R$ 28 milhões para a recuperação de ruas e avenidas mais precarizadas, os motoristas e pedestres têm deparado com várias frentes de trabalho e muitos transtornos. Acontece que, por onde as máquinas passaram nesses meses, o saldo pode ser observado de duas maneiras. Na primeira delas, as vias ficaram um tapete, o que tem facilitado a trafegabilidade. Por outro lado, onde havia quebra-molas, sobraram apenas elevações.
O agravante é que quase sempre não há qualquer sinalização ou indicativo de que ali há esse tipo de sinal. Na última quarta-feira, o Diário percorreu trechos de sete avenidas centrais e passou por 16 quebra-molas e faixas elevadas para pedestres. Do total, em 10 deles havia algum tipo de problema.
Tudo isso deve ser observado à luz da lei e dos desdobramentos que o emaranhado da legislação de trânsito no país traz consigo. Desde 2016, é proibido, por resolução do Conselho Nacional do Trânsito (Contran), a instalação de quebra-molas, conhecidos como "ondulações transversais". Também não é mais possível usar os tachões (que se assemelham a tijolinhos), que, em passado recente, foram fixados de forma transversal para limitar a velocidade de veículos. Mesmo assim, é possível encontrar, ao passar pelas mais variadas ruas de Santa Maria, esses artefatos que já não são mais permitidos.
No trajeto da reportagem, constatou-se uma verdadeira miscelânea do que pode e do que já não é mais permitido. Por exemplo, há vias em que se tem desde faixas elevadas para pedestres (o que é o correto) a quebra-molas e tachões (que não podem mais ser usados).
CENÁRIO IDEAL
Para Carlos Félix, professor da UFSM e doutor em Mobilidade Urbana, em um cenário ideal, a prefeitura deveria promover a recuperação asfáltica e, logo na sequência, viabilizar a colocação da sinalização necessária.
- A prefeitura tem se esforçado em revitalizar a sinalização. Há, obviamente, faixas apagadas, mas há um esforço em recuperá-las. E a questão toda é que ainda falta entendimento quanto à necessidade de estarmos todos inseridos em um trânsito cada vez mais compartilhado. É preciso ter em mente, e colocar em prática, a necessidade de velocidade baixa, atitudes seguras, o que se desdobra em um trânsito disciplinado e bem orientado - diz Félix.
SEM SINALIZAÇÃO E FORA DOS PARÂMETROS
Ainda que as resoluções do Contran estejam em vigor há três anos, não são poucas as avenidas que ainda contabilizam quebra-molas. E, nessas vias, o cenário é de total disparidade e de falta de parâmetro. É possível encontrar desde um quebra-molas "invisível" - sem pintura em amarelo e preto (como exige a lei) - e tantos outros que não obedecem às dimensões estabelecidas pelo Contran.
O resultado disso, invariavelmente, são veículos danificados (amortecedores e caixa de marcha comprometidos etc.) e, sem dizer, o risco de um acidente de trânsito. Situação que é exemplificada pelo representante comercial de uma empresa de telefonia Walter Diácono, 42 anos, que, segundo ele, "roda por toda a cidade diariamente":
- Onde as obras foram feitas, o asfalto ficou ótimo. Mas tu andas e, aí, quando menos percebe, o carro dá um solavanco em algum resto de quebra-molas ou dessas faixas (elevadas). Não entendo por que não sinalizam. E pelo resto da cidade é muito pior. Tem quebra-molas que é preciso reduzir a velocidade para a primeira-marcha. Não tem um modelo, é tudo desparelho.
PREFEITURA AFIRMA ESTAR ATENTA AO CENÁRIO
O trânsito exige por soluções e medidas em tempo hábil, praticamente na velocidade com que as mudanças se dão. O secretário de Mobilidade Urbana, Orion Ponsi, explica que com o recapeamento asfáltico - por onde as obras de recuperação ocorreram - se tem um acréscimo de cerca de 5 cm de altura e de igual espessura na pista.
Isso acaba por atenuar as faixas elevadas para pedestres e os quebra-molas, que, em média, têm 8 cm de altura. É essa diferença, explica Ponsi, que acaba por dar a impressão por parte dos motoristas de redução de altura ou, até mesmo, de supressão desses artefatos do trânsito. Ponsi enfatiza que a secretaria avalia caso a caso onde serão feitas adequações ou remoções de quebra-molas ou tachões.
- Por uma obrigação imposta por lei, temos e, inclusive, já está sendo colocado em prática a remoção e, em certos casos, a adequação desses dispositivos. Com isso, se cria a necessidade de se valer, por meio de outras ferramentas, a necessidade de se garantir a segurança no trânsito como as ações de fiscalização - afirma.
O secretário diz que, diariamente, nos diferentes turnos, a pasta faz fiscalização junto aos pontos com maior incidência de acidentes e de excesso de velocidade. Ao todo, foram mapeados 138 pontos de acidentalidade (com menor e maior risco).
Sobre os trechos onde ainda existem quebra-molas com sinalização deficitária - enquanto eles não são retirados -, Ponsi diz que a secretaria tem um cronograma de revitalização da pintura. O secretário aponta que o perímetro urbano de Santa Maria teve uma redução de mais de 110% em acidentes com vítimas fatais, em relação aos últimos 12 anos, em decorrência de incremento da fiscalização de trânsito.